Subi no
avião com indiferença , e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar
distraído a esta cidade do Rio de Janeiro. E mergulhei na leitura de um jornal.
Depois q olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade não
estava no céu; pensava certas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me
dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse que ''nós não podemos
descer''. O avião já havia chegado a São Paulo, mas estava fazendo sua ronda
dentro de um nevoeiro fechado, a espera de ordem para pousar. Procurei acalmar
a senhora.
Ela estava
tão aflita que embora fizesse frio se abanava com uma revista. Tentei convence-la
de que tudo ficaria bem, e que logo desceríamos... apesar de saber que não
seria assim:
No
aeroporto tinha uma confusão tremenda. Algo muito terrível tinha acontecido.
Uma mulher havia se suicidado e ao
mesmo tempo, a energia elétrica acabou e os geradores não funcionavam. Estava um
verdadeiro caos.
Quando nós,
passageiros, descobrimos isso, todos se desesperaram dentro do avião. As aeromoças
demoraram muito para acalmar todo mundo.
Eu, ao
contrário, e para meu espanto, fiquei calmo...
A noticia da morte não me chocou muito,
aliás, foi até ‘’normal’’ para mim.
Nos últimos dias, esse tipo de tragédia,
havia se tornado rotina para mim.
Esse sentimento começou quando a filha
de 4 anos do meu melhor amigo foi atropelada e morreu.
Eu percebi que a vida era muito frágil
e se aquela mulher se suicidou tinha feito isso, é por que tinha seus motivos.
Ficamos ‘’rodando’’
pelo ar, até que a ordem foi restaurada no aeroporto.
Quando descemos para o saguão, os
monitores, espalhados por ali estavam passando a noticia e mostrando imagens da
mulher suicida.
Mas espera aí, eu conheço esse cabelo
ruivo, e essa jaqueta de couro, e essa bolça...
Sim!!! Eu conheço essa mulher, essa
mulher é minha esposa!
Corri para a delegacia, na esperança de
não ser verdade.
Quando cheguei lá, o delegado veio e
confirmou meu medo.
Ele me levou ao IML para reconhecer o
corpo.
Depois que sai de lá, voltei para o
aeroporto. Todo mundo parecia me olhar.
Agora eu realmente entendo o que se
passa na cabeça de um suicida...
Por que eu queria me suicidar...
Só não o fiz por que meus filhos
estavam me esperando em casa, cheios de alegria e expectativa com relação aos presentes
que daria a eles... Ainda não sabiam do
acontecido.
O ‘’presente’’
que dei para eles fez esvair todos esses sentimentos, na esperança de um dia
poder entender o verdadeiro motivo de minha mulher ter tomado essa triste
decisão.
Texto produzido pela aluna Miriam Trevisan nas aulas de Português
da professora Micheli Bonazza.