segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Presente

 Subi no avião com indiferença , e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a esta cidade do Rio de Janeiro. E mergulhei na leitura de um jornal. Depois q olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade não estava no céu; pensava certas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse que ''nós não podemos descer''. O avião já havia chegado a São Paulo, mas estava fazendo sua ronda dentro de um nevoeiro fechado, a espera de ordem para pousar. Procurei acalmar a senhora.
Ela estava tão aflita que embora fizesse frio se abanava com uma revista. Tentei convence-la de que tudo ficaria bem, e que logo desceríamos... apesar de saber que não seria assim:

No aeroporto tinha uma confusão tremenda. Algo muito terrível tinha acontecido.
Uma mulher havia se suicidado e ao mesmo tempo, a energia elétrica acabou e os geradores não funcionavam. Estava um verdadeiro caos.
Quando nós, passageiros, descobrimos isso, todos se desesperaram dentro do avião. As aeromoças demoraram muito para acalmar todo mundo.
Eu, ao contrário, e para meu espanto, fiquei calmo...
A noticia da morte não me chocou muito, aliás, foi até ‘’normal’’ para mim.
Nos últimos dias, esse tipo de tragédia, havia se tornado rotina para mim.
Esse sentimento começou quando a filha de 4 anos do meu melhor amigo foi atropelada e morreu.
Eu percebi que a vida era muito frágil e se aquela mulher se suicidou tinha feito isso, é por que tinha seus motivos.
Ficamos ‘’rodando’’ pelo ar, até que a ordem foi restaurada no aeroporto.
Quando descemos para o saguão, os monitores, espalhados por ali estavam passando a noticia e mostrando imagens da mulher suicida.
Mas espera aí, eu conheço esse cabelo ruivo, e essa jaqueta de couro, e essa bolça...
Sim!!! Eu conheço essa mulher, essa mulher é minha esposa!
Corri para a delegacia, na esperança de não ser verdade.
Quando cheguei lá, o delegado veio e confirmou meu medo.
Ele me levou ao IML para reconhecer o corpo.
Depois que sai de lá, voltei para o aeroporto. Todo mundo parecia me olhar.
Agora eu realmente entendo o que se passa na cabeça de um suicida...
Por que eu queria me suicidar...
Só não o fiz por que meus filhos estavam me esperando em casa, cheios de alegria e expectativa com relação aos presentes que daria a eles...  Ainda não sabiam do acontecido.
O ‘’presente’’ que dei para eles fez esvair todos esses sentimentos, na esperança de um dia poder entender o verdadeiro motivo de minha mulher ter tomado essa triste decisão.

 Texto produzido pela aluna Miriam Trevisan nas aulas de Português
 da professora Micheli Bonazza.

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